Removedor de manchas.
Esfrega.
Máquina de lavar.
Espera.
Amaciante.
Repete.
Secadora.
Gira, gira, gira.
Fumaceira do vapor.
Olho seco.
Coça, coça, coça.
Aroma de lavanda industrial.
Espirra.
O frasco e eu também.
Cabide.
Ajeita.
Plástico.
Embala.
Etiqueta.
Confere.
Devolve pra cabideira automática que gira a cada cliente que chega, a cada segundo do dia, a cada mancha de vinho na camisa branca, a cada marca de batom no colarinho, a cada risco de giz branco na calça preta justa do terno daquele homem.
Aquele homem.
Pelas evidências tenho certeza que é professor. Universitário, pra poder pagar um terno de linho de no mínimo uns mil conto e ter a tranquilidade de manchá-lo de cabernet sauvignon toda terça-feira — já que o paletó com o borrão roxo abstrato sempre chega às quartas. Provavelmente em algum restaurante quatro estrelas daqui no Jardins, acompanhado por mulheres de bocas ora carnudas, ora fininhas; ora Vermelho-Me-Come, ora Nude-Sem-Ser-Pelada. Eu sei porque tenho cada um desses batons que aparecem nos lugares mais obscenos de suas camisas de chambray. Não que eu saia dando pra todo mundo por aí.
Não que eu tenha oportunidade.
Não que eu já tivesse visto o rosto desse homem pra justificar a minha (segundo o Jinho da secadora, “intensa”) investigação por quase dois meses inteiros sobre quem, como, onde e porquê. Mas se eu te disser que as roupas sujas de alguém contam mais sobre ela do que um jantar à luz de velas (sempre tem cera na calça dele) você acreditaria em mim? Não que eu já tivesse jantado à luz de velas. Só se contar quando faltou luz no carrinho de pizza-cone da minha tia.
Ale Carvalho. Por que o dono dessas peças que eu trato com uma solução de químicos que provavelmente diminuíram a minha expectativa de vida uns 15 anos nunca veio buscar as suas roupas pessoalmente? É sempre aquela garota magrinha de cabelos escorridos que vem buscar e pagar a conta absurda dessa lavanderia que me remunera talvez tão bem quanto aqueles carinhas que vendem água e doces de origem duvidosa no semáforo da avenida Tiradentes em um dia de verão tão suado quanto a barriga da Ivete Sangalo naquela capa do CD da Banda Eva. Anos 90, lembra? Quando o padrão de beleza ainda podia ser alcançado sem ser exclusivamente através de intervenção cirúrgica — não que algum dia eu estivesse perto de ser magra daquele jeito.
Será que é por isso que Ale Carvalho nunca vem retirar as suas próprias roupas? Ele simplesmente assume que as garotas que trabalham em lavanderias jamais estarão à altura das ex-modelos fotográficas da FARM que ele costuma sair? Que idiota. Primeiro porque é um cu lavar as estampas daquela marca e segundo porque ex-modelos depois que se aposentam aos 25 por terem entrado na terceira idade segundo homens da terceira idade que se dizem fotógrafos precisam se sustentar de alguma forma — ainda mais tendo abandonado a escola aos 14 anos pra morar em um quarto com outras 15 garotas passando fome. Ou ele acha que todas elas conseguem se sustentar só fazendo publi de cosméticos B que mais parecem o amaciante rosa que certa vez pré-expediente eu misturei com o pó-laranja-tira-tudo e bebi pra ver se dava algum barato?
Não, infelizmente não me matou e nem o coronavírus.
Mas finalmente matou todas as manchas avermelhadas das cuecas boxer 100% algodão de Ale Carvalho que eu venho tentando tirar — e falhando — há meses. Não que o meu objetivo pessoal seja lavar cueca de homem rico e metido a intelectual, mas quando se tem um trabalho tão entediante quanto o meu, qualquer desafio se torna um palco de holofotes do Caldeirão do Hulk na minha cabeça. Tens o que é preciso para tirar hemorróidas de cuecas? Se humilhar pobre é a especialidade desse programa então eu tô no quadro certo. Hemorróidas são quando as veias do cu dilatam, sangram, e dão uma dor horrorosa. Provavelmente causado pelo stress de ficar sentado o dia inteiro corrigindo milhares de provas ou preparando centenas de aulas. Eu nem deveria ligar, né? Eu sei. O Jinho da secadora vive me dizedo isso, mas — hemorróidas. Coitado desse professor. E não é qualquer tipo de hemorróida que ele tem. É das graúdas, que machucam tanto que parece até mancha de menstruação.
Íntimo demais? Intimo é lavar as cuecas de um homem que eu nunca vi na vida mas que sei absolutamente tudo sobre. Será que Ale Carvalho sequer sabe o nome de quem bateu o récorde de tirar as manchas das suas partes íntimas fragilizadas em apenas 30 segundos? Dolores Ribeiro. Vulgo a gata da lavadora número três. Vulgo eu. Que sei que todos os bolsos dos seus ternos têm um furinho que acomoda a ponta da caneta que ele sempre deve esquecer de fechar depois de corrigir uma prova. Que as barras das mangas de suas camisas têm um aroma de leite de coco com açafrão que ele deve acidentalmente encostar na moqueca de banana da terra que almoça todas as segundas-feiras no Digaê Bar & Bahia (não que eu tenha pesquisado todos os restaurantes baianos da região, longe de mim). Um amante de moqueca inconscientemente compartilhando suas intimidades logo comigo, uma baiana fugitiva em São Paulo tentando uma carreira como cantora de blues — e subindo na carreira imaginária de detetive de lavanderia. Uma garota não pode mesmo sonhar.
Um professor fã de vinhos, moqueca e mulheres. Um sedutor, provavelmente. Cobiçador de alunas, provavelmente. Que gesticula sem parar, explicando as teorias de sabe-se-lá-o-quê enquanto mexe a sua taça que derruba todo o conteúdo nos blazers Zara que eu pessoalmente discordo por conta do trabalho escravo e tudo mais — mas essa maldita loja realmente acerta quando o intuito é deixar um homem sexy. Um homem de cabelos na altura dos ombros, provavelmente. Castanhos e cacheados, provavelmente. Segundo os fios que eu sempre tiro das ombreiras dos ternos — que caem até demais pra alguém que provavelmente tem lá os seus 30 e poucos anos. Será que ele está se alimentando direito? Com esse tanto de noitada e consumo de alcool com certeza ele tem dormido pouco. Será que ele leva todas essas mulheres para o seu apartamento? Onde será que ele mora? Eu já procurei na sua ficha. Mas ali só conta o endereço da Universidade Brasileira de Ensino. Nunca ouvi nome tão genérico. Talvez Ale Carvalho use ternos caros pra compensar o seu provável fracasso acadêmico. E consegue. Pra pegar tanta mulher… Será que a cabelo-escorrido é uma de suas amantes? Ou simplesmente uma infeliz aluna que achou que estaria crescendo na vida mas na verdade está realizando as tarefas domésticas do seu professor que insiste em dizer que são parte da sua “formação de caráter”? Que cara folgado.
Eu não sou mulher de fazer coisa pra macho. A menos que ele me pague. Com carteira assinada, décimo terceiro e 1 mês de férias que eu uso para terminar de gravar o meu álbum que está em produção faz exatamente 4 anos. Mas ele será um estouro, eu juro. É hit depois de hit. Eu canto sobre um amor que nunca vivi, pelo menos não fora da minha cabeça. Mas os amores imaginários são os que realmente nos fazem gozar — já que não estão ali pra estragar tudo depois de te comer e aparecer com a sua prima no almoço de família. Não, o amor que eu não vivi é o amor perfeito. É o amor paulistano, louco, bêbado, rápido, com hora de começo, meio e fim, mas sem prazo de validade pra morar na eternidade da sua mente, naquele espacinho especialmente destinado às faíscas de um dia de verão. Que te mantém viva os outros 364 dias do ano.
Eu quero tanto gozar.
Já fazem meses. Quero tanto esfregar as camisas de Ale Carvalho por todo o meu corpo enquanto minha chefe está ocupada demais gritando com Jinho da secadora. Quero roçar naquela manga por onde seus dedos se enfiam todos entrelaçados porque ele nunca sequer abriu aquele maldito botão do punho. Roçá-la nos meus cabelos, nos meus seios, na minha xota. Enfiar meus dedos de levinho como se fossem os dele, que sabem exatamente todos os pontos A, B, C, D, E, F, G de dentro de mim. Beijar seu colarinho com aquele cheiro amadeirado da noite anterior misturado com um suor gostoso, de quem não se apressa nas preliminares. De quem sabe o que faz. De quem gosta do que faz. De quem diz pra uma mulher que ela é mais linda que ele já— linda não, gostosa. A mais gostosa que ele já viu. Brutalmente honesto. Ridiculamente tentador. De uma maneira que só um cara que usa gravata de seda estampada poderia ser.
— Dolores, atende aqui a cliente! — grita Lucinha enquanto eu termino de botar a última leva de roupas do Ale Carvalho na cabideira automática: seu típico terno preto de linho, três camisas brancas de chambray, cinco cuecas cinza mescla 100% algodão e, curiosamente, um top de ginástica marrom de poliamida que sempre aparece nas coisas dele mas que eu não faço ideia de quem seja.
Corro para o computador do balcão e abro a ficha de clientes.
— Bom dia. Você tem o número do pedido?
Ela me dita os números, que eu preencho no computador. Automaticamente, o sistema encontra o pedido realizado: Ale Carvalho. 1 terno, 3 camisas, 5 cuecas, 1 top. Eu olho para a mulher que veio retirar. 30 e poucos anos. Óculos escuros. Cabelos castanhos e cacheados presos em um rabo de cavalo. Camiseta 100% algodão preta e masculina, grande demais para o seu biotipo. Calças jeans azul-escuro vintage, provavelmente compradas em um brechó de peças clássicas, de modelagem reta e masculina. Coturnos de couro importado recentemente encerados. Roupa descolada de quem não está trabalhando em plena segunda-feira. Que tipo de pessoa tem folga de segunda-feira? Definitivamente, essa não é a garota mirradinha de cabelos escorridos que sempre vem buscar as roupas de Ale Carvalho.
— Cadê a cabelo-escorrido?
— Quem? — A Coturno-de-couro não entende a minha observação completamente aleatória.
— A menina que sempre vinha pegar as peças dele.
A Coturno-de-couro me encara, sem entender nada.
— Olha, eu tô com pressa.
— Claro, claro. Foi mal.
Eu tiro as roupas do cabideiro e as coloco com cuidado em uma sacola em cima do balcão. Eu encaro a expressão impaciente da Coturno-de-couro por trás do balcão. É agora ou nunca.
— Me desculpa se eu soar totalmente intrometida, mas como ele é?
A Coturno-de-couro me olha de novo, cara de interrogação. Decide me ignorar e pega as roupas do balcão.
— Obrigada.
Mas eu puxo as roupas de volta pra mim. Não posso perder essa oportunidade.
— Tipo, o que ele te diz pra você vir até aqui pegar as roupas dele? São os jantares às terças? O perfume amadeirado? O jeito pseudo-inteligente que ele fala nas aulas? Que são do quê, aliás? Eu chuto alguma parada na área do direito, pelos ternos de linho. Geralmente as pessoas não se importam e compram aqueles de poliéster que fica todo molenga sobrando nas pernas, sabe?
— Garota, ele quem?
Mas meu coração está pulsando demais para ouví-la. Meu deus do céu, eu vou parecer uma completa tarada e provavelmente vou perder o meu emprego agora mas eu preciso saber.
— É o beijo dele?
— Dele quem?
— Do Ale Carvalho.
Ela olha para mim. Para os ternos. Para mim de novo. E alguma ficha imaginária que eu não faço ideia qual seja cai para ela.
A Coturno-de-couro cai em uma gargalhada irritantemente deliciosa. Deixa à mostra aqueles dentes grandes e brancos, emoldurados por uns lábios carnudos sem nenhum tipo de batom nem Vermelho-Me-Come e nem Nude-Sem-Ser-Pelada.
Será que os lábios de Ale Carvalho são carnudos assim? Será que ele e Coturno-de-couro combinam em uma união perfeita de bocas milimetricamente coordenadas? O que seria especialmente surpreendente porque ela não tem o estilo menininha-fofinha-ex-modelo-da-FARM.
— Com certeza é. — Ela diz, debochada.
Eu fico imediatamente vermelha. E ela ri de novo. Não sei do quê. Se eu estava esperando esclarecimentos com a minha súbita humilhação pública eu certamente falhei na missão. Agora eu fui promovida de detetive-da-lavanderia a tarada-da-lavanderia. Definitivamente, uma garota não pode sonhar.
A máquina imprime automaticamente o certificado de recebimento das peças. Mas eu não me movo. Jesus… que humilhação. A Coturno-de-couro percebe que eu não vou pegar aquele papel tão cedo — que no momento estou congelada por meus próprios pensamentos torturantes.
Ela tira uma caneta do bolso da camisa. Uma caneta destampada, cuja ponta cabe perfeitamente em um pequeno furo no fundo do bolso. E assina o certificado com aquele maldito sorriso pendurado em seu rosto desenhado por um artista renascentista de tão simétrico que é seu queixo em comparação às saltadas maçãs do seu rosto e sua testa de pele macia. Quem ela pensa que é?
— Olha, só pra esclarecer. Eu não vou atrás dele nem nada. — Ela me observa, claramente se divertindo. — Você tem que entender que meu trabalho é extremamente tedioso tirando quando o Jinho prende uma peça de cetim na turbina da secadora ou eu consigo tirar mancha de cueca em menos de 30 segundos. Então assim, fica tranquila. Ale Carvalho existe e existirá só na minha imaginação.
— É Direito Constitucional, mas você chegou muito perto. — Ela diz, quase impressionada.
A que horas será que ela vai parar de me achar uma completa imbecil?
A Coturno-de-couro confere as roupas dentro da sacola.
— Valeu pelas cuecas. Às vezes o fluxo vem muito forte.
Fluxo? Que fluxo? Da quantidade de hemorróidas sazonais que estouram religiosamente uma vez por mês?
— E as camisas. Perfeitas.
— Cabernet Sauvignon é uma boa escolha mas avisa que tem que tomar cuidado na hora de ficar no blá-blá-blá com a taça na mão. Ou não. Se não eu não tenho mais emprego.
Ela ri, me olhando com curiosidade.
— Você é muito boa nisso. Daqui a pouco vai adivinhar até o meu status do SERASA só pela marca da roupa.
O que ela tem a ver com a marca da roupa do Ale Carvalho?
Ela percebe que eu não entendi seu comentário e tira o cartão do bolso.
— Quanto deu tudo?
Eu acordo do meu transe. Olho para o computador. Digo o valor. E ela me entrega um cartão de crédito — com o nome de Ale Carvalho.
Uau. Eles são íntimos.
Tento parecer casual. Mas acabo soando uma stalker mesmo.
— Há quanto tempo vocês estão juntos?
— Ah, acho que uns 31 anos. 30 se você descontar o tempo na barriga da minha mãe.
Ela é irônica. Eu fico absolutamente envergonhada.
— Meu deus. Ale Carvalho é seu pai? Me desculpa.
Ela gargalha novamente com aquele sorriso tão lindo que dá ódio. Nunca que eu fui reparar em sorriso de mulher se não fosse pra comparar com o meu. O que tá acontecendo comigo? E o que eu tô falando de tão comédia que me faria ser descoberta como uma comediante nata e resgatada desse trabalho insalubre?
— Você é uma graça.
Conscientemente eu sei que eu deveria ter ficado muito irritada com esse comentário paternalista. Mas meu corpo decidiu agir por conta própria e ficou todo arrepiado. Até os pelos inexistentes de trás dos meus joelhos.
— Com certeza vou buscar minha roupa aqui mais vezes.
“Minha roupa”?
E então — a ficha cai para mim.
Professora de Direito Constitucional.
Fluxo menstrual.
Meu status do SERASA.
A Coturno-de-couro assiste à minha cara reagindo a todas essas cambalhotas de sentimentos como se estivesse assistindo à uma série ruim na Netflix — ridícula e previsível, mas impossível parar de ver.
Ela dá uma última risada e se vira para ir embora.
— Até segunda que vem, Dolores.
E foi assim que eu vi Ale Carvalho sair da lavanderia Raio de Sol.
Sabendo o meu nome.
Me achando uma graça.
Dizendo que iria voltar.
Nunca na minha vida eu quis tanto ver como uma mulher ficava com um terno masculino.
Garotas Vermelho-Me-Come e Nude-Sem-Ser-Pelada, eu entendo vocês completamente nessa faísca de um dia de verão. Eu sou vocês.
E somos pateticamente apaixonadas.
Eu não sei quando minhas pernas decidiram tomar o controle do meu corpo mesmo meu cérebro gritando para eu enfiar a minha cabeça em algum daqueles plásticos de proteção e morrer sufocada embaixo do balcão.
Eu não sei quando elas saíram correndo em direção à Ale Carvalho, que agora já estava virando a esquina com as roupas nas mãos, rumando ao restaurante Digaê Bar & Bahia que ficava a exatos 100 metros da lavanderia.
E como Ale Carvalho poderia comer uma moqueca de banana da terra com suas roupas recém lavadas no ombro sendo que ela era incapaz de saborear a impecável culinária baiana sem se sujar por completo? Eu tinha que salvá-la de si mesma, e minhas pernas sabiam disso.
Ou precisavam inventar qualquer desculpa pra eu me sentir menos inconsequente.
Por mais que eu nunca tivesse corrido atrás uma mulher na vida.
Por mais que eu nunca quisesse tanto saber tudo sobre uma mulher na minha vida.
Por mais que eu nunca quisesse tanto os lábios carnudos de uma mulher sobre os meus na minha vida.
Não perca os próximos frictions... !
Luiza Fazio
Luíza Fazio é roteirista e escreveu Sintonia (Netflix), a série brasileira mais assistida em 2019 e a terceira mais vista do canal de streaming no ano, ultrapassando Stranger Things e Sex Education. Possui especialização em roteiro pela University of California Los Angeles (UCLA). Por dois anos foi roteirista fixa da produtora LB Entertainment, indicada ao Emmy, desenvolvendo projetos para players internacionais. Recentemente Luíza foi nomeada pela embaixada dos Estados Unidos em Brasília para a residência International Writing Program (IWP), que desde 1967 reúne anualmente 35 escritores selecionados de todas as partes do mundo.
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